quinta-feira, 2 de junho de 2011

Volta

Creio que qualquer processo de criação seja desafiador. Por mais simples que seja a proposta – inclusive chegar à simplicidade é a coisa mais desafiadora que existe, na minha modesta opinião – os momentos de criação são sempre um motivo para a barriga sentir aquele frio.
Há pouco voltei ao fazer teatral, no espetáculo Boneca Teresa. Trabalhar como atriz é algo que me coloca numa situação de risco: o efêmero jamais será seguro. Acontece/eu. É incorrigível. Está lá. Jamais mudará. Outras apresentações virão, passarão e sempre ficarão lá, cada uma do seu jeito. A mesma peça pode ser vivida ou mentida. Senti essa diferença abismal na primeira e na última apresentação no Túlio Piva. Na primeira, o nada, Na última, algumas centelhas de vida. E não foi pelas mudanças de estrutura de cena, se tratava mais da energia empregada e, por não sermos máquinas, essa nunca é a mesma. É a velha história do rio: nem a pessoa, nem o rio serão os mesmos no próximo encontro. Águas correrão e mudarão algo em ambos. Águas passam por aqui... por vezes tumultuosas. Purifica, mas também pode polui, machuca. Não é apenas a água, é por onde ela corre.
Alusões, sensações, prisões. Não há palavra que falte no dicionário do ator. Medo, entrega, vontade, necessidade. Às vezes tenho a sensação que o ofício da direção possa ser menos doloroso. Mas apenas quando não estou dirigindo. O ator pode dar o máximo de vida à cena, mas também tem o poder de esvaziá-la. Nada aconteceu. O diretor, nesse caso, tem uma posição mais segura, fato! Apenas até o dia da estreia, em que ele, o diretor, nada mais pode fazer. Não há como parar a cena, voltar, nem ir lá e fazer. Não há intervenção. Não sei como descrever a sensação de assistir a algo que se conduziu e, no entanto, na sua realização, assistir emudecido ao efêmero. O corpo endurece. As sensações vão ao extremo. Não há descrição possível. Mas não escolhi como oficio (oficialmente) por acaso. Como boa ariana, o incerto me chama. E aqui me encontro, novamente dirigindo. Difícil retorno também. Não há segurança. Mas ver o ato criativo do ator, incitá-lo, conduzir o jogo e poder ver dentro e fora traz uma sensação impagável. Movimentos se tornando ação, intenção, vida. O texto saindo do papel e ganhando formas das mais diversas. Diferentes desenhos, entonações, falas, ações. Momento único, sublime. Então, fico feliz. Felicidade com hora marcada – hora de ensaio. Mas felicidade, sem dúvida alguma. Até a estreia...